Category: TEMAS__

Helena de Freitas

Este texto é uma versão reduzida, revista e adaptada do ensaio escrito em 2016 para o catálogo da exposição «Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918)» apresentada em Paris, no Grand Palais. A linha curatorial da exposição centrou-se na valorização do seu reconhecimento internacional em tempo de vida e desenvolveu-se à volta de conceitos chave como a sua “identidade plural” e o “carácter polissémico do seu trabalho”. (more…)

Marta Soares

Haverá outra ideia mais misteriosa para um artista
do que a concepção da natureza espelhada nos olhos
de um animal? Como é que um cavalo vê o mundo,
ou uma águia, ou uma corsa, ou um cão…?”
Franz Marc [1]

As montanhas têm um estilo de linhas
que dá vontade de lhes passar a mão pelo dorso.”
Amadeo de Souza-Cardoso [2] (more…)

José Carlos Pereira

Almada e Amadeo: duas almas levantadas, dois pintores que concebem o ato de ver como a via privilegiada de acesso ao real, como ato que radica numa realidade originária, polarizada entre o visível e o invisível, a partir de uma dimensão maioritariamente inteligível (em Almada), e sensível (em Amadeo), sendo que, em ambos os artistas, uma e outra tendem a harmonizar-se num Todo. Para Almada, artista e filósofo, a sua conceção do ato de ver resgata a suspeita que pendeu historicamente sobre a ocularidade, desde Platão a Descartes. A partir desta realidade, apresenta-se a arte como um meio de revelação da verdade: “Arte era a solução”, afirmou Almada, anos mais tarde. E não apenas a solução para aquele tempo, como, em larga medida, para o nosso, dentro do qual a noção de “belo” progressivamente se reconfigurou, como já se reconfigurava à época desses “dois grandes poetas de Orpheu: Sá-Carneiro e Amadeo”, como escreveu Almada, em balanço do movimento órfico, meio século depois. (more…)

Filomena Vasconcelos

I – “O descritivo prova a insuficiência do cérebro, o inventivo a existência de uma ideia” (Amadeo de Souza-Cardoso)

Assim escrevia Amadeo de Souza-Cardoso, em finais de 1912, numa carta ao tio Francisco, que na família era quem melhor o entendia e desde sempre o incentivara na esteira das artes, longe da terra-mãe, na efervescente Paris do início do século XX. Diria Almada Negreiros, em 1916, que Amadeo era a “primeira descoberta de Portugal na Europa do século XX” (apud França, 2011, p. 173). (more…)