O tempo tem alma de caricaturista. Vai esculpindo no nosso corpo o que temos amplificado. Com o tempo, o nariz ou as orelhas grandes tornam-se desproporcionados, o queixo afilado afina, ou os olhos encovam. Tornamo-nos o nosso mapa físico: ele dá forma às montanhas construídas pelos sorrisos diários, e escava os vales profundos das vezes em que chorámos. O tempo sulca com rugas os caminhos para outros sorrisos e outras lágrimas: o corpo já sabe onde dobrar. Traça um roteiro para nos lermos. Linhas secas, se sempre fomos avaros. Linhas fluentes, se em nós houve generosidade. O gesto que repetimos ao longo dos anos foi ensinando aos músculos o ritmo da música que dançámos. A gravidade é o peso do dedo que nos viu barro…