Esquemas do ritmo cíclico percorrem as intensidades mais fortes e radicais, oscilações de prazer e de dor, no decurso, em simultâneo, da estrutura linear simplificada das hagiografias – primeiro impõe-se o mal e depois o bem. Eles aproximam-se da representação da natureza a que escritor e pintor, por intermédio de outrem algures distante no tempo e na geografia, tão bem sabem que não lhes pertence mas da qual fazem parte. Sem malícia, a bravura e a docilidade das relações humanas, o amor radicalizado no sacrifício, são caracterizações a que a natureza é indiferente.
O estudo das técnicas – da escrita e da pintura, como o santo da caça – e o seu emprego meticuloso nos atos e formações artísticas, vertendo e misturando para isso sangue, seiva e tinta, servem para realizar e confirmar a profecia (alucinação auditiva) que os condenara à nascença: a de serem porta-vozes de uma ideia de natureza que creem em plena conformidade com a verdade que apenas a eles se tinha revelado e que apenas eles podem manifestar. É, porém, condição essencial que o corpo despido seja por fim entregue sem reserva alguma (note-se), ao outro corpo – Cristohumano, como um igual ao leitor e ao observador –, “boca com boca, peito com peito”, para que, por entre brilhos de estrelas e raios de sol, numa inundação de alegria, se experiencie em conjunto a espantosa revelação dessa mesma verdade sem mais inquietação.