Creio que Leonardo Coimbra – talvez todos os autores – requer leituras paralelas entre as suas reflexões e as múltiplas diretrizes para onde o seu trabalho aponta – cada leitor certamente dará conta das que mais lhe interessam, ou das que mais chamam por si – mas, sobretudo, creio que o Leonardo anterior deve ser lido em paralelo com o Leonardo posterior, que o Leonardo publicado deve ser lido a par do Leonardo (até agora) inédito e, talvez mais ainda, que o Leonardo pensador e humanista deve ser lido a par do Leonardo familiar e religioso – foram todos o mesmo, e todos eles estão presentes também neste volume VIII.
Escreveu Leonardo que Os Lusíadas são “o salgado coração da nossa Vida”, pois têm em si “a essência [lusitana] do esforço de viver”. Esse sal encontrado nas grandes obras existe também na obra completa de Leonardo Coimbra – é certo, umas obras salgarão mais do que outras. A publicação da obra completa de Leonardo Coimbra é um privilégio (mas um direito também) para o leitor português. Outros infelizes da mesma geração, como Lúcio Pinheiro dos Santos, foram completamente ignorados e obrigados ao insucesso – o espólio deste autor foi queimado pela sua esposa, após a sua morte, em frente à Imprensa Nacional, como protesto perante as sucessivas recusas de publicação. Para recordar o Padre António Vieira, por vezes, como no caso de Lúcio Pinheiro dos Santos, o sal não salga porque é impedido de salgar. Mas, no caso de Leonardo Coimbra, agora com a obra completa publicada e depois da sua leitura, talvez venhamos a poder concluir que é a terra, esta terra, que não se deixa salgar.