Escrito por MIGUEL REAL
As palavras nomeadas, simplesmente nomeadas, (quase) sem adornos estilísticos, nuas, tornam-se mais do que palavras, denotando uma transcendência e um poder absolutos, definidores da humanidade do homem.
A poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen, iniciada em 1944 com o livro «Poesia», espelha a sensibilidade cultivadora de uma “rara exigência de essencialidade” (David Mourão-Ferreira) com a utilização do léxico comum das línguas – palavras simples –, diálogo entre uma natureza humana limpidamente ética e uma natureza auroralmente divina. A Grécia clássica guarda o segredo e o tesouro do último momento histórico em que homem e natureza teriam vivido em fusão, experimentando aquela inteireza exemplar da vida, a verticalidade solar de, transcendente e imanentemente, se sagrar filho dos deuses.