Escrito por JOSÉ RUI TEIXEIRA
Peço-te que venhas e me dês
Um pouco de ti mesmo onde eu habite1
Sophia de Mello Breyner Andresen
Sophia chegou cedo. Tinha onze ou doze anos quando li «O Cavaleiro da Dinamarca», cuja primeira edição data de 1964. É difícil explicar o que nos ensina cada livro que lemos. Se fechar os olhos, passados mais de 30 anos, recordo que ali aprendi a condição de peregrino, uma qualquer deriva que não só nos conduz de Jerusalém a Veneza, como – mais profundamente – nos possibilita uma iniciação ao testemunho mudo das pedras de uma e às águas trémulas dos canais da outra, onde se refletem as leves colunas dos palácios cor-de-rosa. Aí aprendi que um cabelo preto pode ser azulado como a asa de um corvo e que «ninguém deve impedir um peregrino de partir».2