Escrito por FERNANDA BERNARDO
escrevo:
nesta manhã eu recomeço o mundo
Sophia de Mello Breyner, «Igrina»
E os poemas serão o próprio ar
‒ canto do ser inteiro e reunido
Sophia de Mello Breyner, «Igrina»
“Se um poeta diz ‘obscuro’, ‘amplo’, ‘barco’, ‘pedra’ é porque estas palavras nomeiam a sua visão do mundo, a sua ligação com as coisas. Não foram palavras escolhidas esteticamente pela sua beleza, foram escolhidas […] pelo seu poder poético de estabelecer uma aliança”, escreveu Sophia de Mello Breyner Andresen (*Porto, 1919 – †Lisboa, 2004) na sua “Arte Poética II”1, talvez um dos seus textos mais exuberantemente programáticos para o perscrutar da singularidade da sua assinatura po-ética: é a silhueta desta que, muito de passagem, aqui se desejaria vislumbrar.