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19 Maio 2019

Flaubert, G. (texto de 1877); Souza-Cardoso, A. (ilustrações de 1912). La légende de Saint Julien l’Hospitalier de Flaubert. Org. Fundação Calouste Gulbenkian et Documenta (2016). Ensaio de Maria Filomena Molder. Lisboa: Documenta - Fundação Calouste Gulbenkian \ Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918) — 021-DP1822-7r — © Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa / Museu Calouste Gulbenkian — Coleção Moderna.

Escrito por LOREM IPSUM

Grandes ou pequenas, templos de serenidade ou dedicadas a brincadeiras em família, o mais importante numa sala de estar é que seja um espaço para acolher a nossa felicidade. Nos próximos posts vou falar um bocadinho sobre este assunto e tentar descomplicar uma divisão que na casa costuma dar algumas dores de cabeça aos estreantes. 

A primeira regra para criar uma sala de estar coerente é respeitar a luz natural, ou seja, utilizar as janelas. Parece uma coisa simples, mas nem sempre assim é, porque ajustar o mobiliário fazendo o melhor uso das entradas de luz é um desafio por si só. É aqui que entram as cortinas – mais ou menos opacas, para conjugar a necessidade de privacidade com as possibilidades de iluminação natural da sala, dependendo da exposição solar e aproveitando a vista, se for bonita. Podendo, abuse das transparências. 

O sofá vem logo a seguir nas prioridades e é talvez a peça que merece mais ponderação. Deve ser grande e confortável mas apenas dentro do que o tamanho da sala permite. Há alguns truques que nos podem guiar a escolher um sofá para a sua casa: os braços de um sofá são mais bonitos, regra geral, quanto mais robustos forem, mas, se a área não o permitir, pense sempre que é melhor roubar espaço aos braços do que ao assento. O que isto nos diz é que antes de escolher um sofá precisamos de entender que tipo de vivência a casa terá. Será habitada por alguém que usará o espaço mais para receber amigos? Ou é uma zona familiar de que, sobretudo, as crianças vão usufruir? 

E já que estamos a falar em crianças, vamos atacar a arrumação? Esta é outra coisa que deve ser bem pensada, sobretudo ao nível dos equipamentos. Se conseguirmos que as consolas, as boxes e os jogos fiquem ocultos e, de preferência num módulo próprio, para facilitar as ligações, tanto melhor. Só que isso nem sempre é possível e, nesse caso, devemos optar por garantir que os pontos de contato, cabos e tomadas, estão acessíveis sem exigir que diariamente retiremos tudo da peça de mobiliário para ligarmos um computador à televisão ou pormos a funcionar a playstation. Os painéis de parede para a televisão são uma forte tendência, neste momento, mas apesar de funcionarem para ocultar os terríveis cabos e sistemas de ligação, não facilitam esse acesso. É algo a ter em conta. 

Outra ideia que devemos ter em mente é que os espaços evoluem connosco, ao longo do tempo. Isto é sobretudo verdade quando a sala é utilizada pelos mais novos. Faz sentido criar um espaço só para eles enquanto são mais pequenos, o que pode implicar retirar uma mesa de centro da sala de estar, por exemplo, para que tenham espaço para brincar em família e junto dos pais. Algumas fases, como essa, duram muito pouco tempo e não vale a pena estar a fazer grandes alterações na sua decoração. Rapidamente, e quase sem darmos por isso, logo as crianças vão passar a querer estar mais tempo nos quartos e noutras atividades do que a desarrumar o seu tapete da sala.

No próximo post, vamos continuar a desvendar soluções sobre a decoração de uma sala de estar. Até já!

Maria Luísa Malato

O tempo tem alma de caricaturista. Vai esculpindo no nosso corpo o que temos amplificado. Com o tempo, o nariz ou as orelhas grandes tornam-se desproporcionados, o queixo afilado afina, ou os olhos encovam. Tornamo-nos o nosso mapa físico: ele dá forma às montanhas construídas pelos sorrisos diários, e escava os vales profundos das vezes em que chorámos. O tempo sulca com rugas os caminhos para outros sorrisos e outras lágrimas: o corpo já sabe onde dobrar. Traça um roteiro para nos lermos. Linhas secas, se sempre fomos avaros. Linhas fluentes, se em nós houve generosidade. O gesto que repetimos ao longo dos anos foi ensinando aos músculos o ritmo da música que dançámos. A gravidade é o peso do dedo que nos viu barro…

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Isabel Rebello de Andrade

Finalmente, o ritmo da minha pulsação abranda. O trepidar da terra batida faz oscilar o meu olhar por entre as árvores mais ou menos densas que desenham manchas de verdes vivos. Consigo ver o vale que a partir daqui se precipita e os dorsos das montanhas a ondular ao fundo. Perco-me na imensidão da paisagem de terra e céu fundidos. Volto a concentrar-me na estrada, guiada por muros de granito por entre os quais espreitam as videiras carregadas de uvas negras. Continuo a subir e o coração aperta. Estou a chegar a casa. Já quase não me lembrava deste ar puro que me invade o peito. Por entre as folhas rendilhadas vejo a grande fachada, geometricamente recortada e que se impõe sobre o terreiro que nos recebe. O vento traz-me uma mistura de cheiros e memórias e o fumo doce que sai da torre da cozinha conduz-me ao topo da escada. Entro e sinto o calor da lareira que me aquece a alma. (more…)

ISABEL REBELLO DE ANDRADE completou em 2011 o mestrado em Arquitectura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. Em 2015, publicou «A Casa Sonhada – Memórias sobrepostas: um pintor e uma arquitecta», livro traduzido para Inglês e Francês que se baseia na sua dissertação de mestrado e aprofunda os conceitos de “lugar, memória e corpo”, tendo como ponto de partida a experiência pessoal de uma casa em que viveu também o pintor Amadeo de Souza-Cardoso. Desde então, Isabel Rebello de Andrade tem vindo a colaborar com várias iniciativas relacionadas com Amadeo de Souza-Cardoso.

ISABEL SARAIVA é natural do Porto, licenciou-se em Artes Plásticas na Escola Superior de Belas Artes do Porto. Desde então, tem exposto individual e coletivamente em Portugal, assim como em várias salas no estrangeiro, nomeadamente em Nova Iorque, Barcelona, Seul, México, Paris, Coulliure, Cuenca, Toulouse, Bruxelas, Palermo, S. Paulo, Suffolk e Corunha. Realizou 29 exposições individuais em Portugal e 4 no estrangeiro. Participou em 27 exposições coletivas no estrangeiro e em 61 exposições coletivas nacionais. A ultima exposição individual no estrangeiro realizou-se na UNESCO-Paris em 2017, a última individual nacional foi na Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Direito 2018. Autora de obras em serigrafia, literárias, edição de postais, de design e premiada em alguns certames de Artes Plásticas no estrangeiro.

CARLOS MAGNO (Vinhais, 1955) é jornalista, co-fundador da rádio TSF e do canal SIC. Foi chefe da delegação do Porto do jornal Expresso e sub-director do jornal Diário de Notícias.

PEDRO BARROS é escritor e investigador de temas da amarantinidade.

MARTA SOARES (IHA / FCSH / NOVA) é licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e mestre em História da Arte pela mesma instituição com uma dissertação sobre Amadeo de Souza-Cardoso. Desde 2014, tem vindo a colaborar com instituições, como a Fundação Millennium bcp, a Fundação Calouste Gulbenkian e o Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía. Foi curadora, com Raquel Henriques da Silva, da exposição “Amadeo de Souza‑Cardoso / Porto Lisboa / 2016 – 1916” patente no Museu Nacional de Soares dos Reis e no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado. É investigadora do IHA (Instituto de História da Arte da FCSH / NOVA de Lisboa) e prepara uma tese de doutoramento sobre animação e animismo no modernismo.

MARIA DO MAR FAZENDA (Lisboa, 1977) é curadora independente e investigadora no CASt-IHA / FCSH-NOVA. Em 2002 completa o BA (Hons.) Fine Art na Slade School of Fine Arts, University College of London. Em 2005 realiza a Pós-gradução em Estudos Curatoriais pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa / Fundação Calouste Gulbenkian. Actualmente, frequenta o Doutoramento em Estudos Artísticos – Arte e Mediações na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas / Universidade NOVA de Lisboa.

LUDDOVICA DADDI (Florença, 1990) é uma estudante italiana da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), residente em Portugal desde 2012. Movida por um grande interesse pela literatura e cultura portuguesas, desenvolve investigação independente sobre diferentes temas, entre os quais: a poesia de Rui Pires Cabral, o universo intertextual e narrativo de Afonso Cruz e o teatro português do séc. XVIII.